Neste quadro da Lição está dito assim: “Não podemos concordar com a predestinação…”, e aí não se faz qualquer distinção teológica entre a predestinação defendida pelo Calvinismo e a predestinação defendida pelo Arminianismo clássico, que é a linha soteriológica seguida pelas Assembleias de Deus no Brasil.
Faltou a Lição definir que predestinação é essa com a qual não podemos concordar (embora leitores mais inteirados do assunto logo percebam a que predestinação se está referindo), e ao mesmo tempo apresentar aquela predestinação com a qual devemos concordar por ser bíblica. Pois, sim, a Bíblia fala de predestinação! Apenas não podemos concordar com a predestinação INCONDICIONAL (defendida pelo Calvinismo), mas podemos e devemos concordar com a predestinação CONDICIONAL (defendida pelo Arminianismo). Explico a seguir.
1 – PREDESTINAÇÃO INCONDICIONAL
Agostinho, bispo de Hipona (na África), foi quem introduziu de modo inédito na Igreja, entre os séculos IV e V, a teoria da predestinação incondicional, segundo a qual alguns homens já estão predestinados à vida eterna, antes mesmo de qualquer previsão de fé ou perseverança. Segundo aquele bispo, alguns pecadores receberão fé e perseverarão nela porque estão predestinados para isso. Deus predeterminou que eles tenham fé e perseverança. Daí vêm outros conceitos como o de graça irresistível – também introduzido de modo inédito por Agostinho – e perseverança dos santos (embora aqui, Agostinho mesmo defendia a possibilidade de alguns salvos virem a declinar da fé, não estando eles contados entre aqueles que Deus predestinou incondicional e irresistivelmente para o gozo eterno. Ou seja, para Agostinho, nem a todos os salvos Deus concede a graça da Perseverança, mas apenas aos eleitos).
O bispo de Hipona, que é um dos mais eminentes teólogos cristãos do Ocidente, foi um dos antigos Pais latinos da Igreja, de vasta cultura e conhecimento, mas que, todavia, não dominava o grego, língua do Novo Testamento (1). Ele, que em sua juventude seguiu os passos dos Pais que lhe antecederam, foi longe demais em sua obsessiva luta contra o monge bretão, Pelágio, que negava o pecado original e afirmava erradamente, dentre outras coisas, “que o homem poderia sim, cumprir a Lei de Deus por sua própria força e capacidade; mas ainda com maior facilidade por meio da graça de Cristo” (2). Agostinho, tentando superar Pelágio e demovê-lo de seu erro ao atribuir ao homem força inerente para cumprir a Lei de Deus, acabou caindo em outro extremo tão errado quanto o de Pelágio, senão pior! Campenhausen, um dos mais importantes historiadores do século passado, comenta: “Essa preocupação [de Agostinho] levou-o à afirmação da completa predestinação divina, em outras palavras, da previsibilidade de Deus que como tal deve ser ao mesmo tempo uma pré-determinação e uma pré-decisão” (3). Nessa sua luta contra Pelágio e em sua defesa da inédita teoria da predestinação incondicional e individual, Agostinho não tinha razão, mas tinha persuasão. Logo, tinha razão. Impunha sua própria razão pela força do discurso! Campenhausen é certeiro como uma flecha: “Embora essa atitude o tenha tornado teologicamente invencível, fez também com que, ao mesmo tempo, fosse levado para muito longe dos dados imediatos da Bíblia, e até mesmo dos ensinos de Paulo, o que prendeu-o a posições difíceis de defender. Na verdade, seus oponentes o haviam levado para mais longe ainda: todavia, em seu próprio modo de pensar, achava que não havia se colocado à frente deles ainda o suficiente, e isso pode explicar muitas das fraquezas e do rigor da sua posição a que finalmente chegou. Agostinho não desejava ser um inovador, porém, não havia até então encontrado um precursor nas reivindicações pelas quais lutava” (4).
O teólogo anglicanob John Kelly, ao tratar sobre aqueles que recebem a graça da salvação na perspectiva de Agostinho, comenta: “Agostinho crê que Deus fez isso desde a eternidade. O número dos eleitos”, segundo o bispo de Hipona, “está rigorosamente limitado, não sendo maior nem menor do que é necessário para substituir os anjos caídos. Desse modo, ele precisa distorcer [!] o texto que diz que ‘Deus deseja que todos os homens sejam salvos’ (1Tm 2.4), interpretando que Ele deseja a salvação de todos os eleitos, entre os quais estão representados homens de todas as raças e tipos” (5). É de Agostinho que vem a interpretação calvinista comum – embora não unânime (6) – de que Deus não quer exatamente que todos os homens sejam salvos, mas sim que todos os tipos de homens sejam salvos. Nas palavras do teólogo J. Kelly, isto é “distorcer o texto”. Mesmo o pregador calvinista Charles Spurgeon, estava de acordo de que esta interpretação calvinista de “tipos de homens” é uma “explosão gramatical”, como ele disse em seu sermão Salvation by knowing th truth (1880).
O teólogo alemão Gustav Wiggers, considerando o ineditismo da teoria da predestinação incondicional de Agostinho, chega a fazer a seguinte declaração: “Quanto à doutrina da Igreja, até onde ela foi defendida até agora pelos símbolos, Agostinho poderia muito mais que Pelágio, ser chamado de herege. A doutrina agostiniana em toda a sua extensão, pelo menos na sua teoria da predestinação [incondicional], nunca foi expressamente pronunciada ortodoxa, em qualquer sínodo, inclusive no efésio [Primeiro Concílio Efésio, ano 431]” (7).
De modo geral, o entendimento de Agostinho sobre predestinação é aceito pelos calvinistas, desde o próprio Calvino, que, dentre muitas citações que poderíamos fazer aqui, declarou as seguintes palavras: “Chamamos PREDESTINAÇÃO o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem DETERMINAR O QUE ACERCA DE CADA HOMEM QUIS QUE ACONTECESSE. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna. Portanto, como cada um FOI CRIADO PARA um ou outro desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou PARA A MORTE” (8). Aí está declarada a dupla predestinação de Calvino: os que foram predestinados para vida eterna e os que foram predestinados para morte eterna. E a prova de que Calvino crê que esta predestinação é incondicional – ou seja, independe de qualquer coisa que o homem pense, diga ou faça – está em sua declaração: “os réprobos SÃO SUSCITADOS PARA ESTE FIM, ou, seja, para que através deles a glória de Deus resplandeça. (…) Portanto, se não podemos assinalar outra razão por que Deus usa de misericórdia para com os seus, a não ser porque assim lhe apraz, tampouco disporemos de outra razão por que rejeita e exclui aos demais, senão pelo uso deste mesmo beneplácito” (9)
O teólogo calvinista R.C. Sproul, um dos maiores representantes do calvinismo em nosso tempo, assim resume a posição reformada calvinista sobre predestinação: “a visão reformada assevera que a decisão final para salvação está com Deus e não com o homem. Ensina que desde a eternidade Deus escolheu intervir nas vidas de algumas pessoas e trazê-las à fé salvadora, e escolheu não fazer isso para as outras pessoas. Desde toda a eternidade, sem nenhuma visão prévia de nosso comportamento humano, Deus escolheu alguns para a eleição e outros para a reprovação (…) Na visão reformada da predestinação, a escolha de Deus precede a escolha do homem”. (10)
Portanto, que fique claro: é com esta predestinação calvinista, que tem seu precedente teológico em Agostinho de Hipona, que não foi conhecido, defendido ou estabelecido em qualquer Sínodo ou Concílio da Igreja em seus primeiros séculos… é contra esta teoria de predestinação individual e incondicional que nós erguemos nossa voz de protesto e rejeitamos peremptoriamente! Cremos que a salvação é uma dádiva da graça, mas que deve ser recebida pela fé, sem a qual “é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6), e que somente perseverando nessa fé é que o salvo terá garantida para si a vida eterna, pois, como disse Jesus, “É perseverando que vocês obterão a vida” (Lc 21.19), e que sem santificação “ninguém verá a Deus” (Hb 12.14), sendo possível ao que foi santificado com o sangue da nova aliança, vir a pisar neste sangue e profaná-lo (Hb 10.29), e o justo pode vir a recuar da fé e não encontrar mais o prazer de Deus (Hb 10.38), e que Deus quer que todos sejam salvos (1Tm 2.4) e que nenhum se perca (2Pe 3.9) e que Ele não tem prazer na morte do ímpio, antes deseja que o ímpio se arrependa (Ez 18.23; 33.11), e que há sim uma condição a ser cumprida pelo homem para que ele possa ser contado entre os escolhidos de Deus para salvação (Jo 3.16; At 16.31). Por esta razão, não podemos concordar com a predestinação de Agostinho ou de Calvino.
2 – PREDESTINAÇÃO CONDICIONAL
Jacó Armínio, teólogo holandês do século XVI, em sua famosa Declaração de Sentimentos, depois de apresentar uma longa refutação à predestinação defendida pelos calvinistas, apresenta seus próprios apontamentos sobre a doutrina da predestinação, e o faz em acordo com os antigos Pais da Igreja, anteriores a Agostinho, tanto Pais latinos quanto Pais gregos. É conforme estes postulados de Jacó Armínio que nós cremos, porque acreditamos estarem não só em conformidade com o ensino geral dos antigos Pais, mas em subordinação a própria Bíblia sagrada, que é nossa regra de fé e prática.
Armínio, depois de dizer que Jesus Cristo estabelecido como Salvador, Mediador e Rei é o primeiro decreto de Deus concernente à nossa salvação, diz que “o segundo decreto preciso e absoluto de Deus é aquele em que Ele decretou receber aqueles que se arrependerem em Cristo, e, em Cristo, por causa dEle e por meio dEle, para efetivar a salvação de tais penitentes e crentes que perseverarem até o fim, mas deixar em pecado, e sob a ira, todas as pessoas impenitentes e incrédulas, condenando-as como alheios a Cristo” (11). Mais à frente, Armínio expõe que este decreto de salvação condicionado ao arrependimento, tem como embasamento a presciência de Deus, ou seja, Deus já previu na eternidade quem e quantos exatamente – sua onisciência é perfeita! – aceitariam a salvação pela fé e nela perseverariam até o fim, tanto quanto os que persistiriam na incredulidade: “Deus decretou salvar e condenar certas pessoas em particular. Este decreto tem o seu embasamento na presciência de Deus, pela qual Ele sabe, desde toda a eternidade, que tais indivíduos, por meio de sua graça preventiva, creriam, e por sua graça subsequente perseveraria (…) e, do mesmo modo, pela sua presciência, Ele conhecia aqueles que não creriam, nem perseverariam” (12).
Perceba que o ensino de Armínio difere do de Agostinho (que foi adotado por Calvino no século XVI): para Agostinho, a predestinação é incondicional – Deus predestina alguns apenas para serem salvos e a estes dá irresistivelmente a graça da salvação e, a eles somente, dá a dádiva da perseverança; para Armínio, a predestinação é condicional – Deus predestina o que crê para salvação e aos que perseverarem em fé nesta salvação recebida Ele dará necessariamente a vida eterna, como prometeu e decretou. Na verdade, Armínio apenas está resgatando o antigo ensino dos Pais da igreja, conforme os teólogos metodistas do século 19, James Strong e John McClintock, bem descreveram:
“A doutrina unânime e inquestionável da Igreja sobre este ponto [Predestinação] por mais de quatrocentos anos foi, até onde se desenvolveu em distinção, exatamente idêntica àquela que deve sua forma científica e nome a Armínio. (…) ‘Em relação à predestinação’, escreveu Wiggers [1840], ‘os Pais antes de Agostinho diferem inteiramente dele… Eles fundaram a predestinação sobre a presciência’ [de Deus] (…) Justino Martir, Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Crisóstomo – em declarações claras e decisivas – deram sua adesão à teoria da predestinação condicional, rejeitando o oposto como falsa, perigosa e totalmente subversiva da glória de Deus (…) durante mais de quatrocentos anos não se ouviu uma única voz, seja na Igreja Oriental ou Ocidental, na advocacia da predestinação divina incondicional” (13).
Como prova desta crença comum na predestinação condicional baseada na presciência de Deus entre os Pais da Igreja, vejamos como exemplo o que disse Irineu de Lião, ainda no segundo século:
“E Deus que conhece todas as coisas antecipadamente preparou para uns e outros morada conveniente: aos que procuram a luz da incorruptibilidade e tendem a ela, dá com bondade a luz que desejam; aos que a desprezam e se afastam fugindo dela, que de certa maneira cegam-se a si mesmos, preparou obscuridade, como convém, e aos que se subtraem à submissão a Deus, castigo apropriado. A submissão à Deus é o descanso eterno e os que fogem da luz terão lugar digno da sua fuga e os que fogem do descanso eterno terão morada apropriada à sua fuga. Todos os bens se encontram em Deus e os que fogem de Deus por sua própria vontade privam-se de todos os bens e, privados de todos os bens que se encontram em Deus, justamente cairão sob o justo juízo de Deus” (14)
Apesar de Irineu, um dos Pais gregos, não usar neste trecho a expressão “predestinação condicional”, é justamente o conceito dela que subjaz em sua fala: Deus concedendo um futuro a um e a outro conforme a resposta do pecador à revelação divina.
Aos assembleianos é preciso ainda dizer que a própria Declaração de Fé das Assembleias de Deus rejeita a predestinação incondicional e reitera a crença na predestinação condicional, nos seguintes termos:
“O Soberano Deus não predestinou incondicionalmente pessoa alguma à condenação eterna, mas, sim, almeja que todos, arrependendo-se, convertam-se de seus maus caminhos (…). A predestinação genuinamente bíblica diz respeito apenas à salvação, sendo condicionada à fé em Cristo Jesus, estando relacionada à presciência de Deus. Portanto a predestinação dos salvos é precedida pelo conhecimento prévio de Deus daqueles que, diante do chamado do Evangelho, recebem Cristo como o seu Salvador pessoal e perseveram até o fim” (15).
Talvez a única distinção entre o posicionamento agora oficial assembleiano e o posicionamento do teólogo Jacó Armínio, com quais postulados a Assembleia de Deus está de acordo, é que enquanto o teólogo holandês não via dificuldade em admitir a predestinação para a condenação, mas condicionada à rejeição deliberada e persistente, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus parece evitar argumentar assim, preferindo defender apenas a predestinação para a vida eterna. Todavia, se atentarmos para as palavras de Jesus em João 3, não teremos dificuldade alguma em admitir que há predestinação para condenação, tanto quanto para salvação, mas sempre condicionalmente (que isso fique claro!): “(…) para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (…) Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus” (v. 18) – veja que os destinos tanto do que vier a crer, quanto do que não vier a crer já estão previamente estabelecidos: vida eterna para aquele, condenação para este. É o que Paulo diz em Romanos: “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para destruição” (Rm 9.22).
O vaso da ira, suportado por Deus e preparado para destruição é aquele que “despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento” (Rm 2.4), e que “por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Rm 2.5). Há uma condição para predestinação da salvação: CRER, consentindo em seu coração com a mensagem do Evangelho e o chamado da graça; como há uma condição para predestinação da condenação: NÃO CRER, resistindo aos apelos benevolentes e desprezando as oportunidades do Deus paciente. Armínio é contundente, e concordo com sua afirmação: “os homens iníquos que perseverarem em seus pecados necessariamente perecerão. Pois Deus, por meio de uma força irresistível, os lançará nas profundezas do inferno” (16).
Os que possuem uma Bíblia de Estudo Pentecostal poderão consultar as páginas 1808 e 1809 onde há um subsídio sobre ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO. Entre outras coisas, está dito lá que: “A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo)”; e ainda: “A predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo coletivo de Cristo (i.e., a verdadeira igreja), e abrange indivíduos somente quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo”. Aqui fica demonstrado o caráter coletivo da predestinação dos salvos: a Igreja predestinada. Entretanto, esta predestinação coletiva não exclui a predestinação individual, “quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus”.
O teólogo Roger Olson, coloca como mito a afirmação de que “o Arminianismo não acredita na predestinação”. No capítulo 8 de seu livro Teologia Arminiana – mitos e realidades, Olson esclarece: “A Predestinação é um conceito bíblico; o Arminianismo clássico a interpreta de maneira diferente dos calvinistas, mas sem negá-la. É o decreto soberano de Deus em eleger os crentes em Jesus Cristo e inclui a presciência de Deus da fé destes crentes” (17).
Dois textos bíblicos são singulares na defesa da predestinação condicional e embasada na presciência divina. Nas palavras de Paulo: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Perceba: “aqueles que de antemão [Deus] conheceu, também os predestinou…”. Esse conhecimento prévio engloba o conhecimento da fé e da perseverança. Nas palavras de Pedro: “escolhidos de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue” (1Pe 1.2). Perceba: “escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai…”, pré-conhecimento este que leva em conta a fé aceita e exercitada livremente pelo pecador, mediante ação da graça do Espírito de Deus. Se a fé prevista não é levada em conta para predestinação, então não é verdade que “Deus amou o mundo”, pois nesse caso, Deus teria amado apenas os predestinados. E também a verdade não seria que “todo aquele que nele crê tenha vida eterna”, mas que “apenas aquele que foi predestinado para vida eterna, creia nele”.
Portanto, que fique claro: nós cremos sim em predestinação. Mas a que é condicional à fé e que é estabelecida segundo a presciência de Deus das escolhas que fazemos em face da graça que Ele nos dirige. Não é o homem que tem a última palavra em sua eternidade – como nos acusam os calvinistas. É Deus quem já deu a primeira, e dará a mesma palavra como última aos homens: “vida eterna ao que creu! E morte eterna ao infiel!”. O homem só seria realmente dono de seu destino, se ele pudesse alterar os desígnios soberanos de Deus, e alcançar a vida eterna a despeito de sua permanência na incredulidade, ou se ele pudesse ser condenado ao inferno a despeito de sua permanência na fé. Como é impossível que Deus minta, e ele já estabeleceu o fim previamente para os que creem e para os que não creem, então, assim será: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado” (Jo 3.18). Agora, quem vai crer ou deixar de crer, cabe ao homem decidir (não sozinho, pois para isso terá o auxílio indispensável da graça de Deus), como coube ao jovem rico decidir seguir a Cristo ou continuar preso às riquezas (Mc 10.21.22), e como coube a Israel se deixar ser acolhido por Cristo ou fugir de suas “asas de salvação” (Mt 23.37). As mãos de Deus não estão encolhidas para salvação de ninguém! (Is 59.1). Todavia, a salvação é uma dádiva da graça que deve ser recebida livremente (e só é realmente livre, porque há a possibilidade de ser recusada), não uma ação da força onipotente de Deus, contra a qual o homem não possa resistir.
Assim creem os pentecostais clássicos, assim creram os wesleyanos, assim creram os Remonstrantes, assim creram muitos pós-reformadores, reformadores e pré-reformadores, assim creram os Pais da Igreja, assim ensinaram os apóstolos de Cristo e profetas do Senhor.
Assim creio eu!
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